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Como posso ajudar outras pessoas, se ainda não curei todas as minhas dores?

Como posso ajudar outras pessoas, se ainda não curei todas as minhas dores?

Certo dia, há muito, muito tempo atrás, nasceu Quiron. Quiron era filho do Titã Cronos e da Ninfa Filira, mas foi concebido enquanto Cronos havia tomado a forma de cavalo.

Por esse motivo, Quiron nasceu metade homem, metade cavalo. Filira ficou chocada quando viu o seu filho na forma de centauro e não suportou o facto de ter dado à luz tal criatura. Para fugir da situação, Filira pediu aos deuses para ser transformada numa árvore de Tília.

A história de Quiron, o centauro, começa assim com a dolorosa experiência do abandono.

Quiron foi encontrado e adoptado por Apólo que lhe ensinou todos os seus conhecimentos. Foi assim que Quiron cresceu e se tornou num grande curandeiro, médico e oráculo, muito respeitado como professor de vários heróis.

Um desses heróis era Heracles. Certo dia, numa luta, Heracles dispara uma das suas flechas envenenadas e, por engano, fere Quiron na coxa. O veneno era muito poderoso pois tinha sido desenvolvido pelo próprio Quiron. Conta o mito que Quiron tentou incessantemente, mas sem sucesso, curar a própria ferida que lhe causava um sofrimento aterrador.

Quiron torna-se assim no representante perfeito para a metáfora do curador ferido. Aquele que apesar de ter a sabedoria, conhecimento e experiência para curar as feridas no outro, não é capaz de se curar a si mesmo.

Na verdade, a ferida de Quiron e a sua dor constante, tornam-no mais próximo do sofrimento dos outros e mais apto para o compreender em profundidade. Quiron acumula assim à sua grande perícia, os dons da compaixão, empatia e conexão.

 

Muitas vezes, ao longo dos meus 13 anos de carreira, alunas e clientes me perguntaram: “Como é que posso ajudar outras pessoas, se eu ainda não resolvi todas as minhas dores.”

Depois de alguns anos em confronto com o inconsciente, a minha verdade hoje é esta:

A par da nossa entrega ao desenvolvimento de competências técnicas, deve estar a nossa entrega ao desenvolvimento de competências humanas.

As nossas feridas, dores e constantes descidas ao submundo são precisamente as experiências que nos devolvem à nossa humildade e nos recordam de que somos apenas humanos.

Ao escolher uma terapeuta, sinto muito essa necessidade. Preciso de encontrar alguém com a Nigredo marcada na face. Alguém que não virou a cara ao chamado para descender e por isso transporta linhas de inquietação e de dúvidas existenciais.

Em consequência, ao fazer este trabalho, tento sempre recordar-me de que não é APESAR das minhas dores que estou entregue aos processos das minhas clientes. É precisamente POR CAUSA das minhas dores que consigo conectar profundamente com a sua história e reconhecer a beleza do seu mito pessoal.

Desejo muito em breve conhecer mais sobre o teu.

Com amor,

Jo 💙

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