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24 Abr Como posso ajudar outras pessoas, se ainda não curei todas as minhas dores?
Certo dia, há muito, muito tempo atrás, nasceu Quiron. Quiron era filho do Titã Cronos e da Ninfa Filira, mas foi concebido enquanto Cronos havia tomado a forma de cavalo.
Por esse motivo, Quiron nasceu metade homem, metade cavalo. Filira ficou chocada quando viu o seu filho na forma de centauro e não suportou o facto de ter dado à luz tal criatura. Para fugir da situação, Filira pediu aos deuses para ser transformada numa árvore de Tília.
A história de Quiron, o centauro, começa assim com a dolorosa experiência do abandono.
Quiron foi encontrado e adoptado por Apólo que lhe ensinou todos os seus conhecimentos. Foi assim que Quiron cresceu e se tornou num grande curandeiro, médico e oráculo, muito respeitado como professor de vários heróis.
Um desses heróis era Heracles. Certo dia, numa luta, Heracles dispara uma das suas flechas envenenadas e, por engano, fere Quiron na coxa. O veneno era muito poderoso pois tinha sido desenvolvido pelo próprio Quiron. Conta o mito que Quiron tentou incessantemente, mas sem sucesso, curar a própria ferida que lhe causava um sofrimento aterrador.
Quiron torna-se assim no representante perfeito para a metáfora do curador ferido. Aquele que apesar de ter a sabedoria, conhecimento e experiência para curar as feridas no outro, não é capaz de se curar a si mesmo.
Na verdade, a ferida de Quiron e a sua dor constante, tornam-no mais próximo do sofrimento dos outros e mais apto para o compreender em profundidade. Quiron acumula assim à sua grande perícia, os dons da compaixão, empatia e conexão.
Muitas vezes, ao longo dos meus 13 anos de carreira, alunas e clientes me perguntaram: “Como é que posso ajudar outras pessoas, se eu ainda não resolvi todas as minhas dores.”
Depois de alguns anos em confronto com o inconsciente, a minha verdade hoje é esta:
A par da nossa entrega ao desenvolvimento de competências técnicas, deve estar a nossa entrega ao desenvolvimento de competências humanas.
As nossas feridas, dores e constantes descidas ao submundo são precisamente as experiências que nos devolvem à nossa humildade e nos recordam de que somos apenas humanos.
Ao escolher uma terapeuta, sinto muito essa necessidade. Preciso de encontrar alguém com a Nigredo marcada na face. Alguém que não virou a cara ao chamado para descender e por isso transporta linhas de inquietação e de dúvidas existenciais.
Em consequência, ao fazer este trabalho, tento sempre recordar-me de que não é APESAR das minhas dores que estou entregue aos processos das minhas clientes. É precisamente POR CAUSA das minhas dores que consigo conectar profundamente com a sua história e reconhecer a beleza do seu mito pessoal.
Desejo muito em breve conhecer mais sobre o teu.
Com amor,
Jo 💙
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