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Não é assim tão simples

Não é assim tão simples

Quando estamos bem tendemos a sobre-simplificar as coisas. 

A minha analista diz-me muitas vezes que um terapeuta que está apaixonado torna-se irrelevante. Apesar de dizer isto em tom de piada, o fundamento faz muito sentido.

Neste caso o conceito de “estar apaixonado” é usado como uma analogia para um estado de graça, de êxtase ou de concretização. Nesse estado, como qualquer ser humano tendemos a sobre-simplificar muitas coisas. Desse lugar parece tudo simples, óbvio, tangível.

Perante o papel de sustentar o processo terapêutico de outras pessoas, é importante que o terapeuta também se encontre familiarizado com a energia do pântano. Não precisa de estar deprimido, mas precisa de estar mergulhado.

Mas não é isso que vemos à nossa volta. Nas conversas de café, nas publicações das redes sociais e nos discursos inspiradores de pessoas que admiramos, vemos com mais frequência coisas como:

“O segredo do sucesso é disciplina/foco/meditar/amor”

“3 passos para ter paz interior/relacionamentos com alma/dinheiro”

“O auto-conhecimento/o exercício físico/a meditação é a resposta para …”

Eu própria já caí nesse erro da sobre-simplificação muitas vezes. De todas as vezes, e quando me vi novamente rodeada pela noite escura, fui obrigada a olhar para essas simplificações exageradas e desprovidas de sumo e dizer a mim mesma: “Pois é, afinal não é assim tão simples.”

Quando o lemos ou ouvimos parece muito elementar. E, na verdade, para aquela pessoa que escreveu ou deu o tal discurso é realmente assim tão simples. Ou pelo menos parece-lhe assim, agora que já está do lado de lá da parede.

Quando estamos bem esquecemos, sem querer, de onde estávamos emocionalmente, mentalmente, psicologicamente e até fisicamente quando nos encontrávamos perante os obstáculos que hoje deixámos pelas costas. A parede que superámos parece mais pequena do que nos parecia quando nos defrontámos com ela no passado. Mas a tal parede não ficou mais pequena. Nós é que nos tornámos maiores ao atravessá-la.

E de nada serve gritar a alguém que ainda tem metade do nosso tamanho (relativamente a esse tema) que basta alçar a perna, ganhar balanço ou lançar-se. Ou fazer-lhe promessas sobre a vista maravilhosa que vai encontrar cá em cima da parede. Para aqueles que estão bem, a parede tornou-se um degrau. Para aqueles que ainda não estão bem, a parede parece ainda uma montanha. Essas pessoa ainda precisam de desenvolver a coragem e as condições morais e psicológicas para enfrentar esse mesmo obstáculo.

A verdade é que as coisas só parecem assim tão simples depois de feitas. Mas quando ainda precisamos de ajuda para lá chegar, importa ter o apoio de alguém que consegue sentar-se ao nosso lado, ali no chão, nas profundezas e ver a montanha colossal que nós vemos. Alguém que conhece os medos que sentimos. Alguém que sofre as angústias que sofremos. Alguém que reconhece as nossas dores porque algures na sua vida está a confrontar-se com elas também.

Por isso, se estiveres a olhar à volta e a sentir-te sozinh@ nesta jornada de enfrentar montanhas que mais parecem ogres ferozes ou se te sentires estúpid@ porque as recomendações demasiado simplificadas das pessoas que admiras parecem não funcionar contigo, confia em mim: A maior parte das coisas não é assim tão simples como, por vezes, possa parecer.

Para as grandes montanhas, aquelas que vão realmente valer a pena o esforço da escalada, há efetivamente um processo de transformação profunda que terá de acontecer. E isso, na maior parte das vezes não é rápido. Não é fácil. Não é simples.

Mas que vale a pena, ah isso vale.

Pelo menos, eu ainda acredito que sim.

E tu, acreditas?

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Jo 💙

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