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Tristeza

Tristeza

Tristeza.

Ela tem sempre um lugar especial cá dentro.

 

Quem me conhece sabe que sou alegre.

Sou leve, sorridente, goofy.

Isso tudo é verdade.

E depois há a tristeza.

 

Desde que me lembro de ter consciência que ela me acompanha.

Como se ocupasse o lugar da irmã que nunca tive.

Ela faz parte da minha mobília interior.

E tem um lugar reservado na plateia de todas as minhas experiências.

Sejam elas agradáveis ou desagradáveis, vivencio-as sempre com uma espécie nostalgia por algo que nunca aconteceu.

 

Não é uma tristeza dramática.

É mais um cheirinho a melancolia que vou sentido enquanto me ocupo a existir.

Uma espécie de confronto constante e subtil com uma inevitabilidade qualquer.

Uma constatação. Um realismo.

 

Ela está lá nos momentos tristes.

Mas depois ela também está lá nos momentos neutros.

Alturas em que estou a viver a minha vida.

Posso estar sentada a beber um sumo numa esplanada ao sol, posso estar a conversar com uma amiga ou a pôr a loiça na máquina.

Momentos aleatórios, sem qualquer carga emocional.

Mas como quem é subitamente envolvido por uma música que já não ouvia desde a infância, aí está ela.

A tristeza aparece, e toca-me como um brisa suave numa tarde quente.

 

E ela também esta lá nos momentos de absoluta felicidade e gratidão extática.

Sempre que contactei com o divino e percebi na pele que faço parte de um todo e que estar viva é, em si, uma experiência mística e um mistério.

Nesses momentos em que agradeci profundamente ao sol, às pedras, aos corpos, ao jorrar de vida à minha volta e dentro de mim, esse profundo obrigada, veio de mão dada com a tristeza.

 

Esta tristeza não é depressão.

Essa também a conheço, mas não é dela que estou a falar aqui.

Nesta tristeza há um conforto, uma amizade antiga, uma conexão profunda.

 

Nesta tristeza sei quem sou e do que sou capaz.

Ela diz-me que não, não vai correr tudo bem.

Mas que eu posso ser capaz de lidar com aquilo que vier.

 

Ela diz-me que posso ficar tranquila.

Não porque a vida é fácil, ou justa.

Não porque o mundo é um lugar seguro, porque não é.

Mas porque se houver saída, eu posso descobri-la.

 

E mesmo quando não a descobrir, de algo posso ter a certeza, nunca estarei só.

Ela estará sempre aqui para me acompanhar.

E isso, por algum motivo inexplicável, traz-me uma grande sensação de segurança.

Enquanto eu aqui estiver, assim estará ela.

 

Tristeza.

Ela tem sempre um lugar especial cá dentro.

 

Mais alguém reconhece isto de que estou a falar?

 

Com amor, Jo 💙

2 Comments
  • Rosalia Madalena de Monteiro
    Posted at 13:12h, 09 Maio

    Importante como todos os sentimentos. Acolhe-la é uma aprendizagem. Mostra-nos o que precisamos muitas vezes mudar em nós. Não ter medo da tristeza. Importante é que ela venha e vá. Importante é que ela não fique para sempre. Porque isso já será outra coisa
    a ser olhada com atenção.

  • Noelia Marreiros
    Posted at 11:27h, 06 Maio

    Siiiim! Melancolia e nostalgia acompanham essa tristeza como se fossem companheiras de apoio, essa tristeza resgata a realidade e oferece lhe realeza, aquele sentimento de conquista existencial, de ousadia e esperança.