02 Mai Tristeza
Tristeza.
Ela tem sempre um lugar especial cá dentro.
Quem me conhece sabe que sou alegre.
Sou leve, sorridente, goofy.
Isso tudo é verdade.
E depois há a tristeza.
Desde que me lembro de ter consciência que ela me acompanha.
Como se ocupasse o lugar da irmã que nunca tive.
Ela faz parte da minha mobília interior.
E tem um lugar reservado na plateia de todas as minhas experiências.
Sejam elas agradáveis ou desagradáveis, vivencio-as sempre com uma espécie nostalgia por algo que nunca aconteceu.
Não é uma tristeza dramática.
É mais um cheirinho a melancolia que vou sentido enquanto me ocupo a existir.
Uma espécie de confronto constante e subtil com uma inevitabilidade qualquer.
Uma constatação. Um realismo.
Ela está lá nos momentos tristes.
Mas depois ela também está lá nos momentos neutros.
Alturas em que estou a viver a minha vida.
Posso estar sentada a beber um sumo numa esplanada ao sol, posso estar a conversar com uma amiga ou a pôr a loiça na máquina.
Momentos aleatórios, sem qualquer carga emocional.
Mas como quem é subitamente envolvido por uma música que já não ouvia desde a infância, aí está ela.
A tristeza aparece, e toca-me como um brisa suave numa tarde quente.
E ela também esta lá nos momentos de absoluta felicidade e gratidão extática.
Sempre que contactei com o divino e percebi na pele que faço parte de um todo e que estar viva é, em si, uma experiência mística e um mistério.
Nesses momentos em que agradeci profundamente ao sol, às pedras, aos corpos, ao jorrar de vida à minha volta e dentro de mim, esse profundo obrigada, veio de mão dada com a tristeza.
Esta tristeza não é depressão.
Essa também a conheço, mas não é dela que estou a falar aqui.
Nesta tristeza há um conforto, uma amizade antiga, uma conexão profunda.
Nesta tristeza sei quem sou e do que sou capaz.
Ela diz-me que não, não vai correr tudo bem.
Mas que eu posso ser capaz de lidar com aquilo que vier.
Ela diz-me que posso ficar tranquila.
Não porque a vida é fácil, ou justa.
Não porque o mundo é um lugar seguro, porque não é.
Mas porque se houver saída, eu posso descobri-la.
E mesmo quando não a descobrir, de algo posso ter a certeza, nunca estarei só.
Ela estará sempre aqui para me acompanhar.
E isso, por algum motivo inexplicável, traz-me uma grande sensação de segurança.
Enquanto eu aqui estiver, assim estará ela.
Tristeza.
Ela tem sempre um lugar especial cá dentro.
Mais alguém reconhece isto de que estou a falar?
Com amor, Jo 💙
Rosalia Madalena de Monteiro
Posted at 13:12h, 09 MaioImportante como todos os sentimentos. Acolhe-la é uma aprendizagem. Mostra-nos o que precisamos muitas vezes mudar em nós. Não ter medo da tristeza. Importante é que ela venha e vá. Importante é que ela não fique para sempre. Porque isso já será outra coisa
a ser olhada com atenção.
Noelia Marreiros
Posted at 11:27h, 06 MaioSiiiim! Melancolia e nostalgia acompanham essa tristeza como se fossem companheiras de apoio, essa tristeza resgata a realidade e oferece lhe realeza, aquele sentimento de conquista existencial, de ousadia e esperança.