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Não há cura, há caminho.

Não há cura, há caminho.

Gostava de falar sobre cura.

Ao longo da minha vida e carreira já constatei que a nossa transformação é raramente um conceito que possa ser usado assim, numa frase conjugada no presente do indicativo: “Estou transformad@, curad@, resolvid@“

A expectativa de que vamos curar, resolver, ultrapassar certas coisas de modo definitivo é rapidamente defraudada pela realidade de que os nossos processos de transformação são mais frequentemente fenómenos de gerúndio do que de desfecho final. 

Esta ideia da obtenção do resultado definitivo não corresponde à verdade daquilo que empiricamente se pode observar na realidade da maioria das pessoas. Eu incluída. 

Já perdi a conta ao número de vezes em que disse ou ouvi outras pessoas dizerem:
– “Sinto-me mal comigo porque pensei que já tinha ultrapassado esta questão”
– “Como é possível que com tanta terapia/desenvolvimento pessoal, isto ainda me custa”
– “Só quando finalmente curar este tema em mim é que me posso dar permissão para avançar para outras coisas na minha vida”

Achamos que já devíamos estar curad@s e, quando nos apercebemos que afinal não estamos (pelo menos dessa forma definitiva), sentimo-nos incompetentes na concretização das nossas jornadas. Achamos que devemos ser menos capazes do que os outros, achamos que somos fracos, insuficientes. Quando a verdade é que não há cura, há apenas caminho.

Não há cura, há apenas caminho.

E por caminho refiro-me ao percorrer de diferentes etapas nas quais, sim, vou colhendo frutos maravilhosos, fazendo conquistas surpreendentes e tendo encontros com versões de mim mesma que sempre soube que eram possíveis. 

Por caminho refiro-me a viver conceitos como cura, no gerúndio. Na vida, na maior parte das vezes não há cura, há curando. Não há resolvido, há resolvendo. Não há ultrapassado, há ultrapassando. Não há transformado, há transformando. Sempre em evolução, é certo. Sempre cada vez melhor, cada vez mais forte, cada vez mais claro, cada vez mais palpável, mas num processo que raramente tem fim. 

E mesmo que tenhamos a ilusão de ter “resolvido” algum dos nossos temas, isso é apenas uma questão tempo. Basta viver o suficiente para nos reencontrarmos com os mesmos dragões de antigamente. Sim, de cada vez que os reencontramos estamos mais preparados. De cada vez mais fortes, sem dúvida. Mas o dragão é o mesmo, ele não morre, ele não se evapora. O convite volta sempre de novo para nos elevarmos a novas e mais completas versões de nós próprios.

Como diz Jung: “(…) a análise não é uma cura que se pratica de uma vez para sempre (…) não há mudança incondicional por longo período de tempo. A vida tem de ser conquistada sempre e de novo.”

Por isso, faz-me dois grandes favores:
1)Não tenhas a expectativa de que vais matar esse dragão. No máximo podes ambicionar a domá-lo, sabendo que mais dia, menos dia, ele volta a escapar e tens de voltar a empreender a dura prova de o capturar e domar novamente.
2) Não fiques à espera do momento em que estarás curad@, resolvid@ para viver a tua grande aventura, para te lançares em novas jornadas, para te permitires realizar tudo o que desejas.

“A vida tem de ser conquistada sempre e de novo” e quando o dragão do costume aparecer outra vez, não é porque fizeste nada de errado.
A isso chama-se ser humano.
A isso chama-se vida.
Curando. Transformando. Resolvendo. Caminhando.

Jo 💙

2 Comments
  • DenisRR
    Posted at 11:48h, 28 Janeiro

    Muito interessante esta abordagem!!! Me parece que a vida é composta de vários ciclos que se repetem, sejam bons ou ruins. A dinâmica continua e o desafio é sempre crescer em relação a nós mesmos.

  • Mariana Pimenta
    Posted at 20:38h, 27 Janeiro

    Processo de individuação como espiral- vamos estando num patamar de consciência diferente mas os temas vão-se repetindo e nós vamos circulando sempre a partir de um nível mais elevado 🙏