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Até o que é bom, pode ser demais

Até o que é bom, pode ser demais

Recentemente recordei-me de mais um dos mitos sobre viver a vida com o nosso propósito de vida.

O mito de que se estás a fazer algo que amas então não precisas de mais nada. Não precisas de férias. Não precisas de fins de semana. Não precisas de um break, de uma pausa, de um momento de afastamento. Não desejas ocupar-te com mais nada. O teu trabalho de sonho chega para preencher a tuas medidas de realização. E se assim não for, talvez não seja o teu propósito de vida.

E isto não poderia estar mais longe da verdade.

Mas depois comecei a pensar nas outras áreas de vida e percebei que este mito não é exclusivo da área do Propósito de vida e realização profissional.

Este mito está presente por exemplo na área dos relacionamentos. Já perdi a conta ao número de amig@s, clientes e outr@s que quando estão no início de uma relação se queixam que a pessoa com quem estão a começar um namoro não quer estar com el@s o tempo todo. 

“Se não quer estar comigo o tempo todo, será que gosta mesmo de mim?” questionam-se. E se a pergunta acerca dos sentimentos do outro é sempre uma pergunta válida, quando associada apenas ao facto de que a outra pessoa não quer estar sempre connosco, é simplesmente uma fantasia infantil que nos venderam desde sempre em histórias de encantar. 

Se alguém não quer estar sempre connosco, isso em nada está relacionado com os sentimentos dessa pessoa relativamente a nós. Porque amar não implica absolutismo. Amar não implica exclusividade da minha energia vital e da minha alegria de viver.

E apesar de parecer óbvio, a verdade é que este mesmo mito se manifesta também na maternidade/paternidade. Se não quero ir logo a correr a seguir ao trabalho buscar os meus filhos, então é porque não os amo o suficiente ou, pelo menos, não os amo como deveria e, com certeza não estou a ser tão boa mãe/pai como deveria. Se não ocupo todo o meu tempo fora do trabalho com eles, negligenciando todo o resto da minha vida, então não estou a amar o suficiente. 

Mas isto não poderia estar mais longe da verdade. O tempo só é proporcional ao amor até certo ponto. É certo que definimos tempo para o que amamos, em detrimento daquilo de que não gostamos tanto, mas o absolutismo é que torna o raciocínio falacioso. 

A premissa é esta: You can have too much of a good thing. Há um momento em que até algo que é bom, é demais. 

Por isso, sim, quando descobrires o teu propósito de vida, é possível que continues a amar ir de férias e a sentir uma alegria enorme quando desligas o computador depois da última reunião antes do fim de semana. E isso é motivo de celebração. É sinal que tens uma vida rica. Parabéns!

E, sim, quando estiveres perdidamente apaixonad@ pela pessoa com quem queres morrer velhinh@, é possível que continues a precisar de espaço para respirares sozinh@ e teres os teus momentos de vazio e preenchimento com outras coisas que adoras. E isso é motivo de orgulho. É sinal que tens uma vida preenchida. Parabéns!

E, acredito, o mesmo acontecerá quando/se fores mãe/pai. É possível que celebres o momento em que podem enroscar-se na cama em família ao sábado de manhã até à hora que vos apetecer. E, ao mesmo tempo, lances foguetes quando finalmente acabaram as férias de verão e eles vão voltar para a escola metade do dia. E está tudo bem. Isso não tem nada a ver com a quantidade de amor presente. 

Este e os outros exemplos são apenas sinais de que te nutres de outras maneiras e por isso, tiveste a maturidade e inteligência de te tornares num ser humano independente e que não coloca as fichas todas do seu sentido de viver numa única área de vida. Parabéns! E Parabéns!

Jo 💙

2 Comments
  • Bruno Belino
    Posted at 15:47h, 16 Janeiro

    Obrigado pelo texto,
    E por me dares uma diferente perspetiva do quão estou dependente da minha dependência. è “apenas” uma questão … de equilíbrio!.

    Obrigado.

  • Graca Neves
    Posted at 17:53h, 14 Janeiro

    Que bom que foi ler este artigo!.
    Tantas vezes me culpei por não ter tempo suficiente para o meu filho!…
    E amo-o sem dúvida.
    Só que precisava do tal brake de que não conseguia usufruir na totalidade.
    Esta medida de estar presente com as pessoas que amas pode ser mesmo sufocante e alturas há em que esta necessidade é dependência e não amos
    Obrigada