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Não peças desculpa

Não peças desculpa

Segundo a mitologia grega, qualquer viajante que quisesse chegar a Atenas teria de se deitar na cama de ferro de Procrustes e confirmar que lá cabia. Se o viajante fosse grande demais para a cama de ferro, Procrustes tratava de amputar as partes e extremidades que lá não coubessem. Se o viajante fosse pequeno demais, seria esticado, como que torturado numa roda mediaval, para se adaptar ao tamanho da cama de ferro.

Este mito é uma perfeita metáfora para o processo de criação das nossas personas. Aquilo que cabe na caixinha das expectativas (nossas e coletivas) é mantido, tudo o resto é desprezado, reprimido e cortado. E se, por outro lado, formos demasiado “pequenos” para corresponder ao tamanho que nos é exigido, seremos obrigados a estender os papéis que desempenhamos para garantir que seremos amados, aceites e protegidos.

Cada um de nós é lançado, em algum momento da sua vida, na sua estrada pessoal para “Atenas”, o lugar que representa o centro da civilização e ainda bem. Faz parte da jornada do herói corresponder ao que é esperado de si. O herói dentro de nós precisa de treinar os músculos e ganhar as competências necessárias para encontrar dentro de si a coragem de enfrentar os dragões que uma jornada da alma exige.

Só nesse momento estará preparado para descobrir quem é, independentemente daquilo que o coletivo espera de si. E alguns de nós já somos esse herói preparado para se descobrir. Alguns de nós já somos esse herói que tem dentro de si todos os recursos que precisa para iniciar uma jornada de maior coerência interna. Alguns de nós já chegámos ao momento em que precisamos de começar a atravessar os portais e a fazer o caminho de provas que nos vai levar a conhecermo-nos a nós mesmos, transformados.

Mas esse caminho exige a coragem de nos testarmos noutros contextos, de nos experimentarmos de novas formas, com novas peles, e novas vivências. Como um adolescente que se descobre esbarrando contra as paredes das condutas anteriormente impostas, também nós, heroínas e heróis adultos, precisamos de nos descobrir na prática.

Por isso, a ti que estás no caminho de saída de “Atenas”, este é o momento para te assumires como és. As tuas vontades, os teus desejos, os teus sonhos, os teus ímpetos. E, sim, também as tuas dúvidas, ansiedades e confusões, porque também as há.

Mas acima de tudo, lembrar que não precisas de justificar a tua jornada da alma. Ela não é um capricho teu. Ela é uma necessidade de sobrevivência. Ela é um direito. Ela é um dever. Mas diferente dos deveres que tiveste até hoje. Este é um dever que eu, tu e todas as pessoas que assim o entenderem têm para com as suas almas.

Por isso, hoje te digo. Se estiveres no caminho para fora de “Atenas” não peças desculpa por seres quem és. Não peças autorização para seres quem és. Mais tarde será o momento de te reconciliares com o coletivo. Mas por agora, este é o teu momento.

Boa viagem.

Jo ? 

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