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O preço a pagar

O preço a pagar

Ontem deitei-me depois de um dia fantástico. E, apesar de exausta, não conseguia adormecer. Comecei a ser invadida por um conjunto de emoções difíceis. Ansiedade? Talvez.

Ali deitada, mesmo sem abrir os olhos, ativei um psicodrama interior, uma espécie de pequena esquizofrenia, e uma voz no silêncio perguntou:
– Hey! O que é que se passa?

Ninguém respondeu.

– Psssttt, então. O que é que se passa?
– Não sei, acho que é medo – respondeu uma outra voz

– Medo de quê?
– De estar tudo a correr bem.

– E então? Isso não é bom?
– Sim, é bom. Mas já vivi isto noutras alturas.

– Como assim?
– Já estive bem noutras alturas. E depois fiquei melhor e maior e mais forte. Subi todas as montanhas que tinha pela frente naquela altura e saí vitoriosa de todas as batalhas.

– E qual é o problema?
– O problema é que intuitivamente estou a sentir que isso vai acontecer novamente nos próximos meses, talvez 1 ano ou 2. Estou a sentir que vou subir uma nova montanha e que vou ter sucesso.

– Mais uma vez … Isso não é bom?
– Claro que é bom! Não é obvio que é bom? – Respondeu a segunda voz, quase perdendo a paciência – Mas o que me assusta é que, quanto mais alto subo, maior será a queda. Eu já sei. É assim que é. É assim que vai ser. Sinto-me a subir a alta velocidade agora. Nem sei onde irei parar. Mas depois … depois vou estatelar-me no chão novamente. É a ordem natural das coisas. Tudo o que já estudámos juntas confirma isso. Tu sabes que é inevitável. Não há cima sem baixo. Não há bom sem mau. Não há jornada sem regresso. É disso que tenho medo. É isso que nos está a tirar o sono hoje.

– Então o que me estás a dizer é que não queres pagar o preço, é isso?
– Sim – respondeu a segunda voz, já mais calma e com um sorriso.

– Mas nós sabemos que tudo na vida vem com um preço, não é?
– Sim, é verdade. Mas talvez então fosse melhor não subir mais. Ficava por aqui e a queda era mais pequena.

– AHAHAHAHAHAHAHAHAHA – Gargalhada geral entre as duas vozes.

– Ambas sabemos que isso teria outro preço. Tudo tem um preço. E depois, já estás demasiado alto para agora não subires para veres a paisagem de lá de cima, não achas?
– Sim, é verdade. Quero ver como é a vista dali. Mas tenho medo do que vem a seguir.

– Eu sei, eu também. O que te posso dizer é que a queda vai acontecer de novo. Desta vez será ainda mais funda porque vais subir ainda mais alto. Não vai ser tudo bom. Não vai ser tudo fácil. Mas uma coisa eu sei … tu vais saber lidar com isso. Tu vais sobreviver. E quando sobreviveres vais estar ainda mais forte, ainda mais profunda, ainda mais consciente. E nessa altura podes decidir que já não queres voltar a subir mais montanhas. Nessa altura podes decidir que já chega, que já estás bem assim. Mas agora sabemos que é tarde demais para voltar atrás. Agora sabemos o que queres realmente fazer. É o quê?
– Agora quero subir. – respondeu sorrindo e já sem ansiedade.

– Então vais subir. Mas por agora … dorme.
– Boa noite.

– Boa noite.

Jo ?

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