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O que é que estás a fazer aí?

O que é que estás a fazer aí?

Este verão tive uma experiência totalmente nova. Fui a uma junta médica acompanhar um familiar.

Se não sabes o que é uma junta médica, posso dizer-te que é um local onde as pessoas que trabalham por conta de outrem vão quando estão doentes. Nesse local são atendidas por um médico que vai confirmar que estão mesmo doentes e que, por isso, podem receber uma baixa médica. Nesse sentido as empresas onde trabalham não precisam de lhes pagar o ordenado e quem se responsabiliza por isso é a segurança social.

É sempre uma situação de alguma tensão para as pessoas que precisam de recorrer a uma junta médica. Isto porque, por muito doentes que realmente estejam, estão dependentes da competência de um estranho para definir a sua vida nas semanas e meses seguintes.

Apesar disso, assumindo que tudo corre de forma correta, parece-me uma forma bastante razoável de proteger as pessoas que realmente precisam e que estão doentes e controlar os excessos e aproveitamentos de algumas pessoas menos bem intencionadas. Mas não é sobre isso que venho aqui falar hoje.

Enquanto lá estava sentada ia, obviamente, observando as pessoas à minha volta, como não consigo deixar de fazer. Ao ver as pessoas a levantarem-se e dirigirem-se ao gabinete médico tive uma nítida sensação de que estavam a colocar no estado o arquétipo de Pai. Vou explicar.

Quando nascemos somos totalmente dependentes de outros seres humanos. Temos muito pouca liberdade para ser ou fazer ou decidir o que quer que seja sobre a nossa vida. Esses direitos e responsabilidades são das pessoas adultas que ficaram responsáveis por nós. É nelas que colocamos, invevitavelmente, o poder sobre as nossas vidas.

Quando fazemos 18 anos, teoricamente tornamo-nos adultos. Para algumas pessoas é um pouco mais tarde que isso. Mas seja quando for, há um momento em que a responsabilidade e o poder sobre a nossa vida deveria ser transferido dos nossos “pais”, para nós mesmos.

Mas isso não acontece neste caso, pelo menos neste aspeto, para as pessoas que trabalham por conta de outrem. Estas pessoas colocam no estado o arquétipo de Pai, bem como todas as suas responsabilidades e poderes. É “ele”, o estado, que decide sobre a minha vida. Como sou dependente “dele”, “ele” é que decide quanto ganho independentemente da minha produtividade, é “ele” que decide os dias de férias que tenho e é “ele” que decide se a minha doença é grave o suficiente para ficar em casa ou não. Literalmente como se fosse uma criança. Basicamente estou nas mãos do estado como grande Pai.

Coloco nesta entidade o poder sobre a minha vida e, com ele, a minha liberdade, autonomia e responsabilidade. Removo-me da equação como parte responsável.

Quando observei este fenómeno, percebi finalmente porque tantas pessoas passam tanto tempo da sua vida a reclamar do estado. Se é ele que tem todo o poder, é ele que tem toda a responsabilidade. Logo eu não sou responsável pelo que acontece. É o estado. Tenho de reclamar com “ele”.

Agora, este post não é sobre o estado e se funciona bem ou mal. Nem vou responder a observações sobre isso. That’s not the point. O ponto é: Porque é que alguém se iria sujeitar a isso?

Consigo perceber, caso estivéssemos perante uma de três situações:
1) A pessoa adora o trabalho que tem por conta de outrem e por isso sujeita-se a essa situação porque o prazer que tem no que faz compensa (é o caso do meu familiar).
2) A pessoa não tem capacidade para se lançar sozinha e ser livre.
3) A pessoa prefere ter essa “segurança” e com ela abdicar da sua liberdade. São os seus valores.

Se estás numa destas 3 categorias consigo perceber. Claro! Mais vale ser assim para ti. Mas se, por acaso: detestas o que fazes, tens imensas capacidades para fazeres da tua vida o que bem entenderes e sentes falta da liberdade de decidir como queres que a tua vida seja, então pergunto-te:

O que raio é que estás a fazer aí?

Muitas vezes quando estou com um amigo e passa por nós uma criança, sem querer, sai-me uma palavra: “Coitada!”. A pessoa que me acompanha normalmente fica chocada e pergunta-me se não gostava de voltar a ser criança. A minha resposta é sempre um inequívoco: “Não!”

Não ter autonomia e poder sobre a minha vida, nem pensar.
Gosto muito da minha liberdade de poder decidir fazer com a minha vida aquilo que bem entender. Mas sei que com essa liberdade vem uma grande responsabilidade. Essa é, de facto, a desvantagem. Para mim, compensa, sem a mais pequena dúvida.

Este post é para essas pessoas que, como eu, preferem os benefícios e as dores de ser o seu próprio Pai. Para aqueles que já o fazem e para aqueles que precisam de coragem para o fazer. Dá trabalho. Mas vale a pena.

Mas, pronto, por agora vou andando, que isto hoje já ficou longo ? e o meu Pai interior está a dizer que está na hora de passar à próxima parte do dia.

Que o teu dia seja fantástico.

Jo ?

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