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O que os outros vão pensar

O que os outros vão pensar

Isto de começar a ter uma vida que já pode ser considerada semi-longa ?, permite-me ter a oportunidade de observar a jornada de outras pessoas a longo prazo. Coisa que nunca tinha tido a capacidade de fazer antes, olhar para o percurso de certas pessoas de forma macro e perceber tanto dos seus momentos de transformação.

É como que olhar para a linha do horizonte num dia luminoso. Se a percorrer com os meus olhos irei ver um surfista aqui, uma onda ali, uma ave a subir com um peixe no bico, um barco à vela lá ao fundo.

Algumas destas pessoas observo-as há tantos anos como os que existo, conheço-as desde que nasci. Outras observo-as há 20 anos, outras há uma década, outras há poucos anos, mas de forma presente e atenta.

Ao ter este lugar privilegiado consigo, de forma clara, perceber como, a cada transformação, largam mais um pouco daquela bagagem de responsabilidade de ser algo que consideraram toda a sua vida que deveriam ser.

O momento em que decidem que vão largar aquele curso, aquele desporto, aquele trabalho que nunca os apaixonou.
O momento em que decidem deixar aquele casamento, aquela amizade, aquela relação, que mantiveram tempo demais.
O momento em que começam a vestir as roupas, ou a ter a atitude ou o look com que fantasiavam há tanto tempo.
O momento em que, talvez em segredo, decidem finalmente começar aquele hobby, aquela atividade, aquela brincadeira, que as intrigava há anos.
O momento em que simplesmente deixam de se preocupar com aquilo que os outros vão pensar, com aquilo que os outros vão dizer. Nem que seja só numa pequena área das suas vidas, o momento em que se libertam desse peso, dessa responsabilidade. Na verdade, a responsabilidade de serem algo que não são. Algo que, se calhar, nunca foram.

Talvez haja pessoas que estão a ler isto e a pensar: “Eu não me preocupo com o que os outros pensam”.

Mas por vezes esses “outros” não têm cara. Não são esta ou aquela pessoa. Às vezes esses “outros” são apenas uma sensação, um feeling, uma projeção dos meus próprios receios de me transformar em algo que não dei autorização a mim mesmo de me tornar.

Nestes anos de vida e tantos outros de prática, percebo que em todos nós há uma separação entre o que sou na realidade do meu dia-a-dia e aquilo que seria, caso escolhesse viver a minha totalidade. Caso escolhesse ser livre.

Mas o post de hoje é para homenagear a inevitabilidade da vida, que em momentos chave, nos obriga a questionar sobre essa separação.

Hoje é para homenagear esses convites, às vezes dolorosos, às vezes libertadores, muitas vezes ambos, para termos a coragem de nos aproximar um pouquinho mais da pessoa que viemos cá para ser.

Observar alguém a ter essa coragem e a libertar-se desse peso, é mesmo das coisas mais belas que já presenciei ?

Tem um dia bonito!

Jo ?

“Chegará a hora em que deve ser abolida a divisão interior do homem para garantir ao não desenvolvido uma oportunidade de vida.”
Jung, in Tipos Psicológicos, P. 109

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