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A relação não é terapia, terapia é terapia

A relação não é terapia, terapia é terapia

Uma coisa que observo frequentemente em casais é um dos elementos do casal (às vezes ambos) a querer fazer da relação o local da sua terapia.

Todos nós chegamos às nossas relações com uma bagagem. Chegamos com as memórias daquilo que vivemos anteriormente. Algumas memórias chegam mesmo da nossa infância. Muitas memórias boas, certamente, outras nem tanto. E com as mágoas, às quais poderíamos corretamente chamar traumas, entramos num novo relacionamento esperando que seja ali que vamos corrigir as nossas cicatrizes.

Acredito mesmo que uma relação tem o potencial mágico de ser um local de cura, sem dúvida. Mas não acredito que é a responsabilidade do nosso novo parceiro de vida pagar pelos erros que as pessoas com quem estivemos no passado cometeram.

Esta afirmação parece óbvia, não é? Mas na prática frequentemente aquilo que promovemos é bem diferente.

Como fui traído no passado, esta pessoa vai ter de fazer tudo por tudo, vai ter de se virar do avesso para eu não me sentir desconfiado de nenhuma forma. E mesmo assim, pode ser que não seja suficiente. Afinal de contas, ela tem de compreender … eu já fui traído.

Como fui agredido no passado, esta pessoa vai ter de fazer tudo por tudo, vai ter de se virar do avesso para eu não me sentir magoado de nenhuma forma. E mesmo assim, pode ser que não seja suficiente. Afinal de contas, ela tem de compreender … eu já fui agredido.

Como fui rejeitado no passado, esta pessoa vai ter de fazer tudo por tudo, vai ter de se virar do avesso para eu não me sentir desprezado de nenhuma forma. E mesmo assim, pode ser que não seja suficiente. Afinal de contas, ela tem de compreender … eu já fui rejeitado.

E assim criamos a nossa nova relação, condicionando a pessoa que escolhemos para partilhar a nossa vida a ser de uma determinada maneira para que nós possamos curar as feridas que trazemos connosco.

Mas a verdade é que as feridas são nossas. E, apesar de termos um parceiro de vida que pode realmente contribuir para que nos curemos, esse trabalho é nosso e apenas nosso. O nosso parceiro de vida pode apenas acompanhar-nos nesse processo.

Não é responsabilidade dele pagar pelos “crimes” que não foi ele que cometeu. Isso não seria justo para ele, não seria justo para a relação e, muito menos seria justo para nós.

Por isso, uma relação pode ser um motor de cura, sem dúvida. Mas apenas isso, um motor. O “automóvel” temos de ser nós a conduzir. É nossa responsabilidade procurar ajuda para as nossas feridas.

A relação não é, fundamentalmente, o local para fazer terapia. Terapia é o local para fazer terapia.

Tem um lindo dia!

Jo ?

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