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A minha voz interior

A minha voz interior

Tenho uma voz dentro de mim que sussurra com desdém a frase: “És mesmo estúpida!”

Não é sempre, mas há momentos em que acontece vezes demais. Depende de como estou. Depende do que estou a fazer. Depende de como me sinto em relação a mim.

Esta voz não é minha, mas também sou eu. 
Esta voz não é tudo o que sou, mas também faz parte de mim.

Essa voz, essa frase, surge sempre com um tom que me indica que não está surpreendida. Não é surpresa para ela aquilo que me está a dizer: “Eu sempre soube que tu eras estúpida, eu já sabia. Estás a ver como eu tinha razão.”

Nesse instante sou invadida por uma sensação de angústia gigante, um pânico, um desespero. Quero desaparecer, deixar de existir, extinguir-me. O meu coração acelera de tal forma que nesse momento, em que sou invadida por esse desprezo relativamente a mim, há um grito, um suspiro aflito que sai da minha boca involuntário, autónomo, automático. Como se precisasse de gritar essa dor para fora. Como se precisasse de me ouvir na realidade para me distinguir dessa voz, dessa parte de mim.

Essa voz acompanha-me desde que me conheço como pessoa. Sinto-a como se tivesse alguém que me despreza a olhar-me com ódio ao mesmo tempo que me agarra no braço com toda a força e me espeta as suas unhas afiadas na pele.

Ela faz questão de me dizer, de forma que não me esqueça, que sou má pessoa, que sou mau carácter, que sou inadequada, que sou desprezível.

Felizmente não a oiço muitas vezes. Surge quando estou desconectada de mim. Quando estou a viver de forma menos coerente com aquilo em que acredito. Quando não tenho uns dias para estar só comigo há muito tempo. Ela surge quando me esforço demais, há demasiado tempo, para ser quem eu acho que devo ser, em detrimento de quem eu realmente sou. Para caber em alguma caixa da qual não faço parte. Ela é o castigo do meu inconsciente por estar a viver longe da minha essência.

Ela coloca-me no meu lugar. Ela devolve-me a humildade de saber que não sou perfeita e que é desnecessário tentar sê-lo. Ela vai estar sempre aqui a relembrar-me da minha falibilidade, da minha imperfeição, da minha humanidade.

Tenho dificuldade em perceber o seu papel na minha vida. Se é uma amiga antiga, algo agressiva, ou se é uma vilã interna que só quer a minha destruição. Não faço ideia. Mas acho que vou ter muito tempo para descobrir. Não acredito que se vá embora tão cedo. Uma velha companhia indesejada que traz uma mensagem difícil.

Respiro fundo. Solto o ar num suspiro. Volto a mim. Silêncio.

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