fbpx

Parece que ninguém me ouve

Parece que ninguém me ouve

Durante anos a fio li livros de liderança. Eu sabia que tinha uma palavra a dizer nos ambientes profissionais onde me encontrava. Eu sabia que era boa pessoa e que tinha os valores certos para que as outras pessoas quisessem ouvir a minha visão das coisas. Trabalhava numa coisa de que não gostava, mas tinha fortes opiniões sobre o funcionamento das coisas e acreditava naquilo que tinha para dizer.

Mas na hora de falar parecia que era afónica. Ninguém ouvia.

Cheguei a pensar que tinha um problema grave de colocação de voz porque em muitas situações de debate de ideias com 3 ou mais pessoas, dava por mim a ter de gritar para que me ouvissem. E, mesmo assim, era ignorada, interrompida, esquecida. Não que as pessoas com quem estava a falar fossem más pessoas, pelo contrário. A maioria eram, na minha visão, pessoas incríveis, mas simplesmente não tinham grande interesse no meu contributo. Por isso, durante anos a fio li livros de liderança.

O tempo foi passando e a minha frustração aumentando e proporcionalmente a minha confiança de que tinha realmente algo de relevante a dizer diminuía. Parei de ler livros de liderança, parei de me focar em como podia influenciar os outros, parei de querer ser ouvida e comecei a ouvir-me. Mais uma vez, tenho a agradecer à minha falta de persistência por isso. Tivesse eu sido mais persistente/casmurra e tentado eternamente esse caminho, ainda hoje estaria metaforicamente afónica.

Quando comecei a ouvir-me percebi que estava insatisfeita com um determinado conjunto de coisas na minha vida. Encontrei as forças para trabalhar sobre isso e, aos poucos, mês após mês, construí a vida com que sempre sonhara. Demorei cerca de 3 anos a chegar aí. E nesse momento, 3 anos depois, aconteceu uma coisa incrivelmente surpreendente. Dei por mim numa situação social, em que ideias estavam a ser debatidas e quando timidamente abri a boca para falar, a sala ficou em silêncio e as caras viraram-se todas para mim. Fiquei de olhos esbulhados com estupefação e continuei a falar. A coragem para falar em frente a outros nunca tinha sido o meu problema. Ser realmente capaz de passar uma mensagem é que nunca tinha acontecido antes. E nesse dia aconteceu. Todas as pessoas ouviram, comentaram e utilizaram as minhas ideias de forma relevante para o assunto em questão.

De início achei que tinha sido um acaso, talvez as pessoas daquela sala fossem mais respeitadoras da voz dos outros, ou mais disponíveis para integrar todas as visões das coisas. Mas surpreendentemente a situação voltou a repetir-se noutro contexto com outras pessoas. E outra vez. E outra vez. E quase sempre.

Hoje em dia de cada vez que falo num contexto de ambiente coletivo, seja ele qual for, as pessoas param para me ouvir. Nem preciso de levantar a voz, pelo contrário.

Em tempos, uma psicoterapeuta minha disse uma frase que eu amei e que tentarei parafrasear aqui: “As pessoas vão ser influenciadas pelo que nós dizemos na medida em que aquilo que dizemos é verdade dentro de nós e nos representa.”

Quando parei de tentar influenciar os outros com as minhas opiniões e comecei a influenciar os outros com o meu exemplo, de repente, como que por magia, as minhas palavras já tinham toda a importância do mundo.

Por isso, se este tema te tocou, podes e deves continuar a ler livros de liderança. Mas lembra-te sempre:
Antes de ter, tens de ser. As pessoas são inteligentes e são mais influenciadas por exemplos profundos do que por palavras vazias.

– “Tem um dia bonito” – disse ela, com uma ótima colocação de voz 😉

Jo ♥

No Comments

Sorry, the comment form is closed at this time.