29 Set Fazer a coisa certa, da maneira errada.
Às vezes temos de fazer a coisa certa da maneira errada e está tudo bem.
Vejo isto muitas vezes e já o vivi na minha vida também. Queremos tomar uma determinada decisão na nossa vida, mas não conseguimos, pois exigimos a nós mesmos fazê-lo da maneira mais correta possível.
Podemos querer deixar um trabalho que nos drena e esvazia, mas temos medo de desiludir as pessoas com quem trabalhamos. Às vezes vamos ter de criar um conflito e uma discussão para conseguir, no meio da raiva, encontrar a coragem de dizer a uma pessoa, a um projeto, a um trabalho que nos vamos embora, que já não queremos mais, que acabou. Podemos dizer que o ideal não seria isso. O ideal seria que o fizéssemos com calma, numa situação de harmonia, em que assumimos as nossas escolhas de um lugar de sabedoria. Podemos dizer que, isso sim, seria o mais bonito. Mas não conseguimos sempre tudo da maneira mais honrosa e está tudo bem.
Podemos querer fazer uma pausa de tudo, ter um período sabático, mas temos medo de assumir as consequências disso na nossa vida. Às vezes vamos ter de arranjar um médico que confirme que estamos deprimidos, ou esgotados, ou outra coisa qualquer para ter a coragem de assumir perante toda a gente que chegámos a um limite, que vamos ter de parar e que escusam de contar connosco para suprir as suas necessidades ou corresponder às suas expectativas. Podemos dizer que o ideal não seria isso. O ideal seria que o fizéssemos por nossa conta e risco, assumindo as consequências das nossas decisões muito antes de estarmos esgotadas, naquele momento em que percebemos que isso era o que precisávamos, há tanto tempo atrás. Podemos dizer que, isso sim, seria o mais coerente. Mas não conseguimos sempre tudo da maneira mais corajosa e está tudo bem.
Podemos querer deixar uma relação, mas temos medo de ficar sozinhos ou de nos arrependermos. Às vezes vamos ter de nos permitir encantar por outra pessoa para termos a coragem de terminar a relação onde estamos atualmente. Podemos não nos envolver com essa pessoa, podemos não trair os compromissos que criámos na nossa relação atual, mas podemos precisar de acreditar que nos conseguimos apaixonar por outro alguém para termos a coragem de nos despedirmos desta relação atual. Podemos dizer que o ideal não seria isso. O ideal seria que o fizéssemos enfrentando os nossos medos de ficar sós e saindo desta relação para o vazio. Podemos dizer que, isso sim, seria o mais correto. Mas não conseguimos sempre tudo da maneira mais louvável e está tudo bem.
Queremos ser corajosos o suficiente para tomar a decisão certa para nós e, ao mesmo tempo, fazê-lo da maneira mais bonita, mais honrosa, mais corajosa, mais louvável, mais heróica.
Queremos ter a bravura de fazer a escolha certa para nós (o que só por si já é um desafio), mas fazê-lo pelo caminho mais difícil, que nos vai obrigar a crescer mais, a desenvolver mais, a ser maiores.
E isso é realmente de louvar. Essa ambição, essa vontade acredito que são as maneiras mais maduras de pensar a vida e os desafios. No entanto, muitas vezes ficamos ali na incapacidade de fazer a coisa certa da maneira certa e acabamos por não conseguir nada.
É por isso que digo que, por vezes, vamos ter de fazer a coisa certa da maneira errada e está tudo bem. Às vezes podemos precisar de escolher o caminho mais fácil, um atalho, um bypass. Não temos de estar sempre prontos para enfrentar todos os desafios. Não temos de estar sempre preparados para encarar os nossos maiores medos. Às vezes, simplesmente não é o momento para essa aprendizagem.
E não me interpretes mal, não se trata de colocar esse tema para debaixo do tapete para toda a vida. Acredito sinceramente que quando não aceitamos um determinado convite de crescimento, de nos superarmos, a vida vai encarregar-se de nos voltar a colocar esse desafio à frente. Mas pode ser que nessa altura já tenhas mais recursos, já tenhas mais maturidade, já tenhas mais capacidade de finalmente superares esse desafio e tornares-te na pessoa que neste momento ainda não te consegues tornar. E está tudo bem.
Não tem de ser tudo ao mesmo tempo.
Não tem de ser tudo agora.
Não tens de ir sempre pelo caminho mais difícil.
Às vezes podes ir pela escada rolante.
Se tiveres de fazer a coisa certa da maneira errada, faz.
Faz com a consciência de que este convite vai regressar novamente, mais cedo ou mais tarde, e até lá podes preparar-te para ele.
Mas por agora, faz a coisa certa para ti, da maneira que consegues, seja ela (na tua visão) a mais correta ou não.
A vida é longa.
Um passo de cada vez.
Um crescimento de cada vez.
Um desafio de cada vez.
Faz a coisa certa para ti.
O resto fica para as cenas dos próximos capítulos.
Tem um dia bonito!
Jo
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