Codependência.

Codependência.

Ouvi esta palavra pela primeira vez há 13 anos numa sessão de terapia.

Mas podia ter ouvido mais cedo, porque as histórias de codependência repetem-se desde que iniciei a minha vida afetiva.

A Codependência reflete-se de muitas formas, mas a mais incapacitante de todas, para mim, tem sido a perda de identidade.

Lembro-me como se fosse hoje. Tinha acabado de terminar uma relação aos 21 anos. E numa tarde de outono decidi ir passear no centro comercial. Entrei numa loja e, para meu absoluto espanto, à medida que olhava para as roupas penduradas nos cabides fiquei paralisada. Pegava em cada peça e simplesmente já não sabia de quais gostava. Não conseguia dizer se achava bonito ou feio. Era como se, de repente, me tivesse perdido numa cidade desconhecida e não soubesse como voltar para casa.

Não me reconhecia em nada.
Não conseguia ter opinião.
E a roupa era só um exemplo disso.

Tinha estado tanto tempo a viver em função daquilo que outra pessoa achava, gostava ou queria que deixei de conseguir ouvir os meus próprios pensamentos.

Mas a verdade é que nunca ninguém, em nenhuma das minhas relações, me pediu para fazer isso. O mecanismo de auto-abandono foi sempre automático e inconsciente.

É um sistema muito complexo que existe dentro de mim e que combina 3 ingredientes potencialmente perigosos:
1. Uma vigilância hiperativa em relação aos sentimentos do outro;
2. Uma crença enraizada de que amar é sacrifício; e
3. Uma forte capacidade de adaptabilidade às necessidades e exigências do meio envolvente.

Estes 3 ingredientes isoladamente e nas doses certas podem trazer benefícios. Alguns deles são extremamente úteis, por exemplo, no meu trabalho como terapeuta. Mas juntos, e combinados com alguma falta de nível de consciência, criam situações devastadoras.

Mas quero que saibas que isto não é algo que acontece apenas a pessoas que não têm personalidade, inteligência ou opinião própria.

Pelo contrário.

Para se perder a noção de identidade é preciso primeiro tê-la.
Qualquer pessoa pode perder-se de si.
Mas, com coragem, também pode voltar a encontrar-se.

Eu acredito.

Com amor,
Jo 🩵

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