07 Set Se te sentiste um fardo a vida toda
A todos os filhos e filhas que se sentiram um fardo a vida toda
Ouve-me com atenção.
A culpa não foi tua. Não fizeste nada de errado.
Os filhos que se sentem fardos sentem-no porque os pais perderam o renascimento depois da morte.
Ter um filho é um processo de morte.
Morte das pessoas que em tempos fomos.
Morte do estilo de vida que em tempos tivemos.
Mas mais do que isso.
Morte da nossa capacidade para manter as mesmas farças, as mesmas personas, os mesmos padrões.
Simplesmente não conseguimos seguir sendo os seres “grandiosos” que criámos porque essa “grandiosidade” já não serve as novas necessidades da nossa alma. Essa “grandiosidade” é que é o fardo que carregamos, não os nossos filhos.
Por isso, um filho que se sente um fardo é um filho de um pai ou de uma mãe que não se permitiu renascer numa nova pele. A parentalidade despiu-os da pele antiga mas ficaram nus, perdidos, bloqueados.
Se te sentiste um fardo como filh@, a culpa não foi tua.
A culpa também não foi dos teus pais.
Eles só não tiveram capacidade de se superarem.
Coitados.
Não puderam ultrapassar-se a si mesmos e permitir-se renascer.
Como pais, acredito, devemos aos nossos filhos a garantia de que nunca foram um fardo para nós. Foram antes um peso abençoado. Como pais devemos aos nossos filhos transcender a nós mesmos.
Porque o fardo é o que trazemos connosco desde antes. E o peso extra dos nossos filhos é a dádiva de que precisamos para nos libertarmos daquilo que já não nos pertence.
Afinal de contas não é possível segurar ambos. A persona que já não nos representa ou os nossos filhos.
Essa é a escolha que temos pela frente quando temos um filho. Um dos dois tem de cair. O peso extra de um filho torna impossível que continuemos a carregar a carcaça de quem já não somos.
Por isso, somos obrigados a escolher. Ou renascemos ou projectamos a morte nos nossos filhos. É essa decisão que enfrentamos com o nosso bebé no colo todos os dias. É essa decisão que tornará os nossos filhos num fardo ou numa benção.
A todos os filhos e filhas que se sentiram um fardo a vida toda
Ouve-me com atenção.
A culpa não foi tua. Não fizeste nada de errado.
Mas agora é a tua vez. O que vais decidir sobre quem és? Eu sei o que vejo quando olho para ti.
E tu, o que vês?
Com amor,
Jo 💙
Sorry, the comment form is closed at this time.