06 Fev Díficil é tudo o resto
O Daniel conta muitas vezes a história de que, quando esteve na Índia, alguém perguntou ao mestre de um ashram, porque é que a iluminação era tão difícil de atingir. O mestre respondeu que a iluminação não era difícil. Iluminação era a parte mais fácil. Difícil era libertarmo-nos de tudo o resto.
Sempre achei esta perspectiva fascinante e sinto profundamente que é exatamente disto que se trata no que diz respeito a quase todos os nossos grandes sonhos.
Não é difícil descobrir qual é o nosso propósito de vida. Difícil é, por exemplo, libertarmos-nos dos preconceitos em relação àquilo que realmente nos apaixona, em relação ao que ter essa nova atividade diria sobre nós.
Não é difícil encontrar e construir um relacionamento íntimo que nos realize. Difícil é, por exemplo, libertarmo-nos das resistências que temos perante a possibilidade de nos entregarmos totalmente nos braços de alguém, ou da necessidade que temos de que o outro complemente as nossas insuficiências.
Não é difícil mudar a nossa realidade e decidir trazer mais qualidade de vida aos nossos dias. Difícil é, por exemplo, libertarmo-nos da cosmovisão, julgamentos ou narrativa das pessoas que nos rodeiam (e que, por ressoar em nós, acabou por se tornar a nossa também) sobre aquilo que ambicionamos fazer.
Não é difícil lançarmo-nos num novo empreendimento pessoal ou profissional. Difícil é, por exemplo, libertarmos-nos da necessidade de acertar sempre, de agradar a todos ou de abdicar de um certo estatuto ou benefício que a nossa realidade atual nos proporciona.
Refletir sobre isto fez-me recordar do mito de Inanna, uma Deusa suméria, Rainha do Céu e da Terra.
Inanna quis visitar sua irmã, a Deusa dos Infernos, por ter sabido que esta vivia no sofrimento e na dor. Mas para descer aos infernos Inanna foi obrigada a atravessar 7 portões e em cada um deles despojar-se de algo que trazia sobre o corpo. Inanna tentou usar a sua autoridade para evitar pagar este preço, mas as leis dos infernos não podiam ser questionadas. A orgulhosa e poderosa deusa chegou aos infernos nua e curvada onde foi depois fulminada. Neste mito, o movimento de descida aos infernos, que pode representar o contacto com o inconsciente, está acompanhado pelo abdicar dos símbolos da identidade da deusa, da sua Persona, das suas defesas.
Quando decidimos iniciar a viagem que nos vai fazer entrar em contacto com as partes sombrias que nos compõem e, por isso mesmo, com o nosso potencial inexplorado temos de nos desembaraçar de seguranças antigas que entretanto se tornaram grilhetas.
Por isso, caso estejamos há muito tempo a arrastar o mesmo tema nas nossas vidas, podemos começar a questionar-nos:
“Do que preciso de me libertar para poder criar esta realidade para mim?”
Porque o mais difícil não é conseguirmos aquilo que desejamos. O mais difícil é libertarmo-nos de tudo o resto.
E tu, do que precisas de te libertar?
Jo
Maria Manuela Barros de Almeida
Posted at 11:22h, 17 FevereiroMuito obrigada pela partilha desra excelente reflexão. 😘
Diogo Bual Durão
Posted at 20:36h, 06 Fevereiro🥰🥰🥰❤️
Vitória Arabela Soares Maia
Posted at 16:24h, 06 FevereiroMto obrigada pelo texto Joana.
🙏
Excelente partilha💫💫💫
Bem haja e que tenhamos todos a coragem de « descer » aos fundos do nosso « inferno » e a ousadia de o transmutar🌈🔆