23 Jan Liberdade ou Impunidade
Vamos falar da diferença entre Liberdade e Impunidade.
Acontece frequentemente tomarmos uma determinada decisão nas nossas vidas alinhada com aquilo que mais desejamos para nós. Se formos corajosos o suficiente para tal, vamos empreender determinadas ações no sentido de vivermos uma vida mais coerente com os nossos desejos mais profundos e, muitas vezes, contra a maré daquilo que vemos à nossa volta.
Isso é absolutamente maravilhoso e, em grande verdade, é também uma necessidade absoluta para aqueles de nós que desejam progredir no seu processo de individuação.
E poderíamos dizer até que viver nesse nível de coerência é sinónimo de Liberdade. Mas não é.
Liberdade só acontece quando vivemos nesse nível de coerência e, AO MESMO TEMPO, aceitamos lidar com as consequências disso.
Liberdade é ser quem sou, fazer o que desejo, viver em coerência e, AO MESMO TEMPO, aceitar que essas escolhas vão implicar certas repercussões em mim, nas pessoas que me rodeiam, no meu contexto e nos meus resultados noutras dimensões da minha vida.
Não podemos esperar ter Liberdade sem consequências. Isso não seria Liberdade. Isso seria Impunidade.
Pode ser que queiramos deixar o nosso trabalho fixo e criar o nosso próprio projeto de paixão. Mas não queremos ter a consequência de ajustar o nosso nível de vida durante um tempo, pelo menos enquanto o nosso projeto não nos der o retorno financeiro que o nosso emprego atual nos dá.
Pode ser que queiramos dizer a nossa verdade, falar do coração e viver com sinceridade, mesmo que isso implique que vamos magoar as pessoas à nossa volta. Mas não queremos lidar com a consequência de que, talvez, as pessoas que nos rodeiam comecem a preferir a companhia de outras pessoas e a evitar estar na nossa presença.
Pode ser que queiramos viver numa relação de dependência com pais, irmãos ou companheiros de vida, seja ela financeira ou emocional e com isso manter uma sensação de conforto e segurança, sem nos arriscamos a caminhar sobre os nosso próprios pés. Mas não queremos lidar com a consequência de que em contrapartida nos seja exigido que façamos coisas por eles que não queremos, gostamos ou desejamos.
Queremos a Liberdade, mas não queremos as consequências. E isso não é Liberdade. Isso é Impunidade.
E impunidade, apesar de ser algo que pode acontecer aqui e ali, não é de todo uma coisa frequente. Mais cedo ou mais tarde vai surgir o dia de pagar a fatura pela Liberdade que desejámos ter. É assim mesmo, não há muito a fazer quanto a isto.
Apenas decidir qual é a consequência que estamos dispostos a viver. Qual é o preço que estamos dispostos a pagar? Porque preço, esse há sempre.
Pode ser que estejamos dispostos a pagar o preço altíssimo de ficar num emprego de que não gostamos. Ou pode ser que preferimos ter as consequências de nos lançarmos num projeto próprio.
Pode ser que estejamos disponíveis para lidar com as consequências de engolir algumas verdades e respirar fundo relativamente aos comportamentos de outras pessoas. Ou pode ser que seja melhor para nós optar por viver as consequências de dizer tudo o que nos apetece e eventualmente alienar quem nos rodeia.
Pode ser que queiramos viver dependentes de outras pessoas porque a consequência disso é, para nós, mais tolerável. Ou pode ser que esse preço seja demasiado alto e optemos por pagar o preço da independência.
Mas seja como for, o que não podemos é viver na ilusão de que não haverá um preço a pagar. Porque o dia do pagamento da fatura chega sempre. Seja qual for o caminho que escolhemos.
Gostava de ter algo mais romântico para partilhar hoje, mas apesar de desagradável, esta mensagem é demasiado importante para não ser partilhada.
Ser livre e ser adulta significa fazer aquilo que quero e aceitar que irei ter de lidar com as consequências disso. Ou seja, em vez de me perguntar apenas sobre o que quero fazer, posso também responder a esta pergunta:
Qual é a chatice com que estou mais disposta a lidar? Qual é o preço que prefiro pagar?
Depois de responder a esta pergunta, já sabemos o caminho a seguir.
Desejo-te uma linda semana cheia de consequências. Mas só daquelas consequências que escolheste, em consciência, para ti.
Jo 💙
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