29 Set Viver bem não é um luxo
Um dos maiores insights que tive durante as férias aconteceu numa tarde, enquanto passeávamos de carro pela Serra da Arrábida e eu partilhava o quão grata estava com a minha vida, neste momento.
Durante a conversa referi várias coisas e uma delas foi:
“Nunca pensei que viver numa moradia fizesse tanta diferença. Tu bem me dizias. Realmente é um luxo não ter de ouvir o vizinho de cima a despejar o autoclismo.”
Ambos nos rimos, e dissemos “Yaaaa, podes crer” como que concordando com a afirmação em tom de alívio. Mas depois de uns segundos de silêncio, o Daniel interrompe a paisagem para dizer:
“Mas espera aí … é um luxo não ouvir o vizinho de cima, como? Isso deveria ser o normal. Viver no silêncio deveria ser o normal. A base.”
E daí começou uma conversa incrível, como sempre acontece quando se partilha a vida com alguém que pensa pela sua própria cabeça, em vez de simplesmente aceitar aquilo que a norma nos diz.
Luxo significa extra. Algo que não é essencial, mas que é agradável ou oferece prazer ou conforto acima do necessário.
Viver no silêncio não é um luxo, é uma necessidade.
Dar um passeio na natureza não é um luxo, é essencial.
Fazer algo que se gosta 8h por dia não é um luxo, é uma necessidade.
Ter tempo para viver a vida e não apenas trabalhar não é um luxo, é fundamental.
Vamos de férias, durante 5 dias para um sítio bonito, estamos em contacto com as árvores, os passarinhos e o mar, temos tempo para brincar com os nossos filhos e dizemos: “Que luxo!”.
Como se vivermos enlatados uns em cima dos outros, em bairros barulhentos e cheios de fumo, a fazer algo que detestamos só para ganharmos um ordenado que nos permite ter uma semana de “luxo” por ano para finalmente olharmos para os nossos filhos e percebermos como cresceram, fosse a necessidade. Mas não é.
Isso é que são os extras.
Viver no centro da cidade onde estão a maior parte das pessoas, onde o custo de vida é caríssimo, não é uma necessidade, é um luxo.
Poder a meio da tarde decidir ir dar um passeio no shoping, ir ao cinema ou ao teatro, não é uma necessidade, é um extra.
Viver a vida a correr, sem tempo para mim, para parar, para ouvir os passarinhos e os meus próprios pensamentos, não é uma necessidade, é uma receita para uma vida triste.
Claro que o que se considera luxo é altamente subjetivo. Pode haver pessoas aqui que andam de jato privado e consideram isso uma necessidade. Para mim, seria um luxo. Por isso, como tudo na vida, depende, é subjetivo.
Mas então pergunto: O que é que tem sido um luxo para ti até agora? Será que essa é a definição certa para ti?
Eu tenho percebido que a minha definição andava meio ao contrário. Havia coisas que abdicava como luxos e que afinal são essenciais para me sentir um ser humano equilibrado. Havia coisas às quais me obrigava como necessidades e que afinal eram só escolhas automáticas que nunca tinha questionado e que me tornavam neurótica, cansada e infeliz.
Como é que seria se a vida que agora consideras luxuosa fosse a tua vida? E não estou a falar de dinheiro. Não estou a falar de coisas caras. Estou sim, a falar das coisas mais valiosas da vida. Como o tempo. Como a paz. Como a liberdade. Como viver. Viver mesmo. Viver a sério. E viver a sério não é um luxo.
Será que me posso dar ao luxo de não viver?
Desejo-te uma semana cheia dos maiores luxos que a vida tem para te dar.
Até já!
Jo
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