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O carácter mostra-se nos pequenos momentos

O carácter mostra-se nos pequenos momentos

Quando era pequenita, os meus pais, por motivos profissionais, precisaram de mudar de cidade mais do que uma vez.

E isso tinha várias implicações na nossa vida, mas obviamente que também tinha implicações na minha capacidade de me integrar em novos grupos de amigos. A verdade é que as crianças nem sempre são boas umas para as outras.

Quando tinha 7 anos tive uma colega que era especialmente mázinha. Ela tinha, já muito nova, a capacidade de liderar todas as crianças para falarem, ou deixarem de falar com qualquer um dos colegas. Tínhamos, por isso, uma espécie de pequena ditadura, em que ninguém podia pisar a linha, pelo risco de sermos “exilados” e nos sujeitarmos a estar a brincar sozinhos durante todos os intervalos.

No início de Março, tal como irá acontecer em breve, chegou o meu aniversário e a hora de convidar os coleguinhas para a festa em nossa casa. A minha mãe ao ver-me preocupada enquanto preparávamos os convites perguntou o que se passava. Eu expliquei-lhe que havia uma menina que eu não gostava e que tratava mal algumas pessoas. Mas que, apesar de não gostar dela, tinha medo de não a convidar para a festa. A minha mãe, muito pragmática disse-me: “Para a tua festa convidas os meninos que tu gostas. Se não gostas dessa menina, não a convides.”

Quando ouvi a minha mãe a dizer isto, senti um misto de confiança, entusiasmo, gratidão e … medo, muito medo. Mas assim fiz. Convites prontos para todos, excepto o gangue da menina mázinha 

Essa decisão definiu muito do meu carácter até hoje e trouxe duas consequências. A primeira, é que efetivamente, durante muito tempo, depois da festa de anos, passei a maior parte dos intervalos a brincar sozinha.

Mas a segunda consequência é que essa pequena decisão trouxe-me uma grande confiança em mim própria, na minha coerência interna e na minha capacidade de enfrentar os meus medos. Claro que, nessa altura, não sabia nada disto. Parece patetice, porque éramos só crianças, mas foi um dos primeiros grandes momentos de poder pessoal para mim.

E tenho a certeza que inspirei outras crianças porque até hoje, 30 anos depois, ainda tenho colegas desse tempo que me dizem: “Tu foste a primeira que enfrentou a “menina mázinha”. Terei criado uma revolução? 

Muitas vezes me pergunto: Será que se tivesse tomado uma decisão diferente, isso teria definido o meu carácter de forma diferente?

30 anos depois já enfrentei muitas mais “meninas mázinhas”. Umas enfrentei com mais facilidade do que outras. Umas chegaram no formato de pessoas que se cruzaram comigo, outras chegaram no formato de dragões internos.

Por isso, hoje conto-te esta história por dois motivos:
1º: Como é obvio, enfrentares os teus medos vai ter consequências chatas, mas vai também ter consequências determinantes, fundamentais e mágicas. Enfrentares os teus medos vai, vez após vez, definir a pessoa que és. Vai aumentar ou definhar o teu “tamanho” e eu sei que tu tens o potencial de ser gigante.

2º: Durante a vida, vais encontrar-te com várias pessoas que vão estar num momento de decisão. Um momento que vai fazer com que cresçam e se superem, ou com que se acomodem e definhem.
O meu pedido: Sê como a minha mãe! Sê a pessoa que se chega perto delas e lhes diz: “Tu vais fazer o que TU queres fazer.”
Sê a pessoa que as apoia, que as empurra, que lhes diz que estão certas. Sê a pessoa que lhes diz que, dia após dia, vale a pena enfrentar os nossos medos, os nossos dragões. Venham eles disfarçados de meninas mázinhas, empregos que não nos realizam ou relações que nos magoam. Seja o que for, sê essa pessoa para os outros quando eles precisarem.

De volta vais receber uma vida inteira de gratidão e a certeza que ajudaste a tornar o mundo um lugar melhor.

Obrigada por leres até aqui.
Tem uma linda semana … cheia de revoluções.

Jo 

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