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Contratos vitalícios no amor

Contratos vitalícios no amor

Será que assinarias um contrato vitalício com uma empresa, para que ali trabalhasses toda a tua vida com as mesmas condições?
Será que assinarias um contrato vitalício com um senhorio para viveres na mesma casa, com as mesmas estruturas, todos os dias da tua vida?
Chegarias a acordo com qualquer empresa para usufruíres daqueles mesmos serviços para todo o sempre?

Mesmo que acreditasses hoje que ias querer trabalhar na mesma empresa, viver na mesma casa e receber os mesmos serviços para sempre, seria muito pouco provável que quisesses comprometer-te dessa forma.

A vida é muito longa, tu vais mudar muito, essas pessoas e organizações também e ninguém sabe se aquilo que está a receber e que tem disponível para dar, se vai manter igual durante tanto tempo. Por isso, não conheço muita gente que responderia “Sim” a alguma das questões em cima.

Mas no amor e nos relacionamentos a coisa muda de figura.

Quando nos apaixonamos acreditamos e prometemos uma série de coisas. Estamos tão encantados com a forma como as coisas se tornaram que assinamos um contrato silencioso dizendo que agora será assim para sempre. Mas isso não é necessariamente sustentável.

Tal como com o teu trabalho, a tua casa e os teus hobbies, as tuas necessidades vão mudar e a tua disponibilidade vai mudar. De forma geral, tu vais mudar. E, só para complicar a equação, a pessoa que escolheste para partilhar a vida também vai mudar. E muito.

Então fazemos as nossas promessas. Mas depois, nem precisa de passar muito tempo, e um de nós quer viver no campo, junto da natureza e o outro não. Um de nós percebe que afinal quer ter filhos e o outro não. Um de nós quer ter uma relação exclusiva e o outro não. Um de nós quer dedicar a sua vida à carreira e o outro não. Os exemplos são infinitos e variam das coisas mais complexas para as coisas mais simples.

No amor assumimos que o compromisso que fizemos 5, 10, 15 anos antes terá de ser cumprido independentemente das pessoas que nos tornámos tanto tempo depois de ter feito essas promessas. Será que isso é realista?

Suponho que um acordo muito mais sustentável seria:
“Hoje eu quero isto. Quando isso mudar, falamos”.

Um acordo muito mais realista é permitir que tudo esteja aberto a ser conversado. Tudo poder ser colocado em cima da mesa para ser redefinido. Tudo poder ser renegociado, com o conhecimento consentido de ambas as partes da relação. Os contratos que fomos fazendo no passado podem ser propostos para alteração a qualquer momento.

Claro que depois muitas destas conversas serão bem difíceis. Muitas destas conversas podem demorar meses. Mas se pensarmos nestas conversas como uma negociação da qual apenas sairemos com uma solução win-win. Se pensarmos nestas conversas de forma a que ambos estamos 100% comprometidos para encontrar uma solução que sirva às duas partes, a probabilidade de ambos querermos continuar juntos, será muito maior. E, principalmente, a probabilidade de continuarmos felizes e apaixonados será também muito maior.

Para mim, isto foi uma grande mudança de paradigma.
Viver desta maneira parece, para quem observa de fora, trazer muito mais instabilidade. É compreensível. Tudo pode ser renegociado a qualquer momento. Mas o que vim a perceber é que a estabilidade é apenas uma ilusão.

A mudança será inevitável. A verdadeira decisão a tomar é se vamos estar disponíveis para a integrar como parte natural da vida, ou se vamos cair na armadilha de acreditar que a podemos evitar.

Boa semana! Bons contratos! Que sejam todos win-win.

Jo ?

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