11 Mai À procura da luz
Ontem tive um momento claro em que quase não me reconheci. Estou finalmente numa fase em que me sinto imensamente feliz por estar viva, muito grata por ser quem sou, completamente convencida de que vai correr tudo bem e que vou saber lidar com tudo o que correr mal.
Eu sei que ninguém está dentro da minha pele, só eu. Por isso, só eu sei que, por dentro, estou irreconhecível.
Durante um tempo longo demais, achei que não iria sobreviver. Esta frase é literal. Não é uma metáfora simbólica de um processo de transformação. Literalmente achei que seria melhor morrer do que estar onde estava. Não aconteceu nada de horrível comigo, nem na minha vida. Esse era um dos fatores de maior confusão. Estava tudo bem. Mas eu não estava bem. Eu estava mal. Mesmo, mesmo, muito mal. E sem motivo. Só sofrimento psicológico. Dia após dia. Noite após noite. Só dor.
Hoje sei que o sofrimento psicológico é das piores coisas que pode acontecer ao ser humano. E ele pode surgir, quer queiramos quer não. Quer nos consideremos todos resolvidos e estruturados, quer não. Quer tenhamos algo que corra muito mal na nossa vida, quer não. Hoje sei que o sofrimento psicológico não tem de ter motivo. Há um dia em que ele vem e parece que não vai mais embora.
Chegar ao ponto de considerar que não há nada pior do que aquilo que nos corrói por dentro, nem a morte, é chegar a um sítio muito perigoso. Isso é o sofrimento psicológico no seu expoente máximo. Hoje sei o que isso é. Hoje sei que muitas pessoas navegam as suas vidas desse lugar. Todos os dias se levantam de manhã e cumprem as suas rotinas e responsabilidades carregando este infinito dentro de si. Este infinito que parece eternidade.
Mas hoje também sei que esse infinito não é eterno. Se estás aí torcido por dentro, inundado de uma dor que não tem princípio nem fim, submerso numa escuridão ensurdecedora, eu vejo-te, eu reconheço-te e eu digo-te com todo o amor que tenho em mim: “Hoje eu sei que vai passar. Acredita. Vai passar”
Gostava de te dizer o que fiz para que essa escuridão fosse embora. Gostava de te dizer que encontrei a meditação, a religião, um terapeuta, um amigo, e que foi isso, mas não é verdade. Gostava de te dizer que comecei novos hábitos que me ajudaram, mas não é verdade. Pode ser que te ajude a ti. Experimenta tudo! Claro! No meu caso, é até possível que haja coisas que fiz, que pensei, que reformulei e que me ajudaram. É possível! Mas nada de concreto que te possa dizer: “Olha, faz isto e vais ficar bem.”
Só sei que um dia comecei a ver um fio de luz e não o larguei mais. Quando vi esse fio não tirei mais os olhos dele. Segurei-me a ele como se a minha vida dependesse disso, porque dependia mesmo, e acho, sinceramente, que ainda não o larguei.
Ainda estou agarrada a esse fio de esperança, de fé, de magia com unhas e dentes e não vou largar tão cedo, porque não posso conceber voltar para onde estava.
Por isso, para ti que estás aí na escuridão, nem sei o que te dizer. Só posso dizer que se olhares com cuidado para dentro de ti, algures podes encontrar esse fio de luz que te pode salvar. Quando o vires, mesmo ao de longe, agarra-te a ele e não largues mais.
A escuridão vai evaporar-se, hoje tenho a certeza disso. E vai evaporar-se pelo mesmo caminho que surgiu, de dentro para fora.
O meu coração está contigo. Procura essa ponta de magia que ainda brilha. Procura esse fio de luz.
Fecha os olhos.
Ele está aí.
Estás a vê-lo?
Jo
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