Terapia para quê?

05 Out Terapia para quê?

Recebo terapia de forma praticamente ininterrupta desde 2013. Tem sido um grande investimento a vários níveis. E quando falo nisto com as pessoas da minha vida, a reação é de surpresa.

A maior parte das pessoas não compreende muito bem porque é que alguém recebe terapia há tanto tempo. Penso que é normal. Eu própria também sinto muitas vezes dificuldade em perceber as escolhas das outras pessoas. E isso acontece principalmente porque nunca fui testemunha dessas mesmas escolhas. Por isso, não as compreendo.

Claro que, se nunca passei por um processo terapêutico, não compreendo muito bem o que lá acontece. Podemos comparar com a experiência que tivemos aqui e ali numa consulta ocasional na qual nos lançámos por desespero e logo abandonámos. Claro que não é comparável.

Seria o mesmo que comparar ir a um date ou dois com alguém com quem nem temos grande química, com ter uma relação de quase uma década com outro ser humano. Ambas as experiências são ótimas, mas o nível de profundidade e de intimidade que se encontra numa relação de longo prazo é obviamente distinto e com ele os lugares onde se pode chegar.

Tenho aprendido muito nestes anos de trabalho terapêutico. Mas o mais fantástico de tudo tem sido começar a ter consciência da história por detrás da história.

O que quero dizer é que, por detrás daquilo que observamos no “corre, corre” dos nossos dias, para além do que está à frente dos olhos, há um pano de fundo, um enredo base.

Sabes quando vês uma série com várias temporadas ao género de “Grey’s Anatomy” ou “Friends”, e há a grande história principal e depois as pequenas histórias que vão acontecendo episódio a episódio? Assim é na nossa vida também.

Temos os pequenos episódios do dia-a-dia e inicialmente é sobre isso que se trabalha num processo terapêutico. Vamos picando episódio a episódio, situação a situação. Vamos resolvendo pequenos conflitos internos e externos.

Mas passado algum tempo, se amb@s (terapeuta e “terapeutizad@“) estiverem disponíveis e atent@s, vão começar a surgir indícios de um enredo mais profundo, de uma história de base transversal a todos os episódios e a todas as situações anteriormente abordadas. Vão começar a ser testemunhas de um enredo muito maior, muito mais antigo e com contornos muito mais representativos do grande mito pessoal que cada um@ está a experienciar.

Estar a conseguir ver a grande história por detrás dos pequenos episódios do meu dia-a-dia tem-se mostrado realmente transformador para mim. Tem sido um reencontro com a minha própria mitologia, uma revelação acerca das grandes perguntas que a minha existência pretende responder e uma explicação muito ampla de porque é que sou como sou, porque é que me sinto como sinto, porque é que crio certas realidades na minha vida e o que é ando para aqui a fazer. E ao longo da minha carreira tenho vindo a presenciar a mesma coisa junto dos clientes que acompanho em processos mais longos.

Tem sido uma verdadeira experiência espiritual. 

Quer consigas vê-lo ou não, o teu mito está aí.
E se querer vislumbrá-lo fizer parte do teu grande enredo pessoal, que este texto te sirva de chamado.
Pelo menos para mim, tem valido muito a pena.

Um abraço!
Jo