29 Set Superioridade é …
Arrogância e superioridade são, na minha arrogante opinião, os sintomas de quem ainda não sofreu o suficiente.
São também dois dos meus principais defeitos. Ou, pelo menos, dois dos que eu já ganhei nível de consciência suficiente para ter detetado em mim.
E para acreditar que são sintomas de alguém que ainda não sofreu o suficiente, basta-me relembrar, ler ou ouvir coisas que eu própria já disse, escrevi ou gravei no passado. Antes de, obviamente, ter sofrido o suficiente para achar essas mesmas afirmações absolutamente ridículas e sem noção.
Um exemplo que ilustra bem o que quero dizer é a minha intolerância (já bem mais controlada, mas ainda existente) para a “pieguice”, nomeadamente quando ouvia alguém dizer que não podia/conseguia fazer algo porque estava com enxaqueca. Ouvia essa frase, sorria compassivamente, mas cá dentro revirava os olhos, suspirava e pensava: “Pelo amor de Deus, que pieguice!”.
Claro que só foi preciso ter tido a minha primeira enxaqueca há uns meses atrás para perceber que quem chama “dor de cabeça” à enxaqueca, não sabe do que fala. Isto porque enxaqueca é a mistura aniquiladora de dor, desconforto e desejo de morrer no corpo, na alma e nos arquétipos do inconsciente coletivo, tudo ao mesmo tempo.
Achar que enxaqueca é pieguice, é apenas arrogância e superioridade de quem ainda não sofreu o suficiente, neste caso, de enxaqueca.
De cada vez que oiço (vindas de outros ou de mim mesma) frases como …
–> “Eu antes era assim, mas agora já tenho consciência e já não faço isso que tu fazes”
–> “Então, mas é tão simples! É só levantares-te e fazeres acontecer!”
–> “Não tens razões para estares assim, nem para sentires isso. Não tem lógica!”
–> “Mas precisas de ler esses livros/ir a esses cursos/ir ao psicólogo para quê? Não te consegues ajudar a ti próprio?”
–> “Existem dois tipos de pessoas: As pessoas conscientes/lúcidas/preparadas/fortes/que vão usar as crises como oportunidades e as pessoas inconscientes/adormecidas/impreparadas/fracas/que não sabem lidar com as adversidades. Que tipo de pessoa és tu?”
… penso, do alto da minha própria superioridade: “Ui! Afinal ainda não aprendeste!!!”
E depois sinto um arrepio na espinha só de pensar no que a vida deve ter reservado para essa pessoa (e para mim) para finalmente a colocar no lugar e a trazer à consciência de que ninguém está imune à dolorosa descida ao mundo dos infernos. Uma e outra vez.
Não que o sofrimento seja o castigo exclusivo dos arrogantes, porque afinal de contas o sofrimento é bastante democrático, mas apenas pelo facto de que quanto mais alto é o pedestal onde nos colocamos, maior será o mergulho para junto da verdade. A verdade de que afinal somos humanos e a verdade de que, afinal, ainda não sabíamos a verdade.
Só desejo levar a sério aquela voz incrédula que me questiona: “Então, mas ainda não chegou a porrada que levaste? Precisas de mais, é isso? Ok, vamos a isso!”, de cada vez (vezes demais) que teimo em me colocar nesse lugar de toda sabedora.
Se também estás aí, cuidado … a vida dá voltas.
Se, ao contrário, estás no mergulho do pântano, relaxa … a vida dá voltas.
Até breve!
Jo
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