29 Set Odeio Falhar. Mas qual é a alternativa?
Aqui ficam alguns episódios:
– Aquela cliente que desaparece e nunca mais me atende o telefone ou responde a mensagens. Tive várias.
– Aquela cliente que se zanga comigo porque lhe fiz uma pergunta que a fez sentir-se ainda pior. Também já tive mais do que uma.
– Aquela vez em que me recusei a dar a segunda metade de uma formação, para a qual tinha sido convidada e estava a oferecer gratuitamente, porque metade das alunas, de braços cruzados, disseram que não tinham interesse no que lhes estava a partilhar.
– Aquele momento em que li um post de facebook de outra pessoa a descrever uma coisa que eu fiz de errado e a criticar-me. Também me lembro de alguns.
– E receber emails, comentários, mensagens que dizem coisas como: “Que chata”; “És convencida”; “Vê-se que tens coisas para curar em ti”, “O que escreveste hoje sobre o que não se deve dizer às pessoas, disseste-me a mim”, já lhes perdi a conta.
Esta é apenas uma pequena lista dos falhanços de que me estou a lembrar agora ou sobre os quais já me sinto preparada para falar. Ah, claro, e estes são só exemplos de falhanços da vida profissional, porque os da vida pessoal têm uma listinha bem grande à parte.
E gostava que ficasse claro que estes não foram falhanços do género: “Mostrei o guião do meu filme a 200 produtoras e todas disseram que não o queriam, até que finalmente houve uma que percebeu o meu génio, realizou o filme e foi um sucesso”.
Não! Estes falhanços que descrevi aqui foram mesmo falhas minhas. Não foram apenas intervalos enquanto o resto do mundo ainda não tinha percebido o meu brilhantismo. Foram mesmo coisas que eu fiz de errado.
Ou porque não fui competente o suficiente, ou porque não estava preparada o suficiente, ou porque dei um passo maior do que a perna e aceitei um desafio para o qual ainda não estava pronta.
E também gostava de dizer que, na maioria destes momentos que descrevi em cima, fiquei mal. Não quero passar aqui a imagem de que recebo um insulto de alguém e é para o lado que durmo melhor. Não é!
Sim, também há os insultos que não me afetam nada. Talvez sejam insultos que não tocam tanto em temas meus e, por isso, me são mais indiferentes. Mas depois há os outros que me estragam o dia, a semana e, por vezes, me estragam metade do ano. Porque fico a pensar nisso. Porque preciso de integrar o que ouvi ou li sobre mim. Porque preciso de me relembrar que, se me magoou tanto, é porque, dentro de mim, pode ter um fundo de verdade. E depois, só depois, ultrapassar o assunto, aprender o que tenho a aprender, levantar-me às vezes a custo, respirar fundo e tentar outra vez.
Só depois. Mas esse depois é muito importante. Talvez não falemos muito disto. Talvez não sejamos educados para falhar. Talvez o sucesso de qualquer espécie seja romantizado. E do caminho para lá chegar sejam omitidas as verdadeiras cagadas que vamos fazendo e a maneira horrível como nos sentimos depois de as fazer.
Falhar é horrível. Dói muito. Às vezes fica a doer muito tempo. Às vezes derruba a nossa auto-confiança, desenvolvida a tanto custo. Às vezes demora até conseguirmos levantar outra vez. E já vi muitos casos de pessoas que nunca mais o conseguiram fazer. É assim, não porque sejam fracas, mas exatamente porque falhar é uma merda.
Mas que vida é esta se escolhermos ficar assim, derrubados, para sempre?
E que repercussões terá isso na nossa alma, na nossa fé, nas outras áreas da nossa vida?
Acredito que serão repercussões avassaladoras. A consequência de uma vida não vivida, de uma alma não cumprida.
Todos os dias são uma nova oportunidade para começar de novo.
Todos os dias são uma nova oportunidade para “suck a little bit less” (esta frase é da Kristina Kuzmic, que adoro).
E garantias só há uma … vais falhar outra vez.
Quando decidimos fazer caminho já não é uma questão de “SE” vamos falhar, é uma questão de “QUANDO” vamos falhar”.
E se ainda não falhaste … é porque ainda não viveste.
Por isso, quando estiveres no chão derrubad@ por mais uma das tuas cagadas monumentais, lembra-te … a alternativa a isso é só uma … não viver.
Por isso, para ti, quero dizer-te com profunda admiração: mesmo quando o preço parece alto demais, parabéns por estares diariamente a escolher o caminho que leva a mais vida.
E quando sentires que estás pront@, bora lá de novo.
Até já.
Jo
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