13 Mar Estamos a exagerar, não?
Começo a ficar estupefacta com os exageros. Sinceramente.
Sinto que uma pessoa (ou seja, todos nós) já não pode dizer nada ou fazer nada porque tudo soa a insinuação de racismo, machismo, assédio sexual, homofobia ou maus tratos a crianças. Posso estar enganada mas pelo que tenho conhecimento todas essas coisas são crimes condenados por lei em tribunal (pelo menos nos países ocidentais) por isso tenho dificuldade em perceber os exageros.
Se alguém comete alguns destes crimes contra ti ou à tua frente, faz uma denúncia e levas as coisas até ao fim para que justiça seja feita. Ponto. Mexe-te. Ou pede ajuda a alguém em quem confias para fazer isso contigo. Não esperes que os outros façam isso por ti. Acredito que em tempos as coisas tenham sido diferentes e ir a uma esquadra de polícia ou fazer uma queixa formal de um destes crimes fosse arriscado, mas desde sempre que a nossa sociedade evoluiu nas asas de pessoas corajosas que enfrentavam o status quo muitas vezes às custas da sua segurança. Esse era um preço a pagar pela sua coragem e pela mudança das mentalidades. Essa coragem emociona-me. Essa coragem merece uma vénia. Sê uma dessas pessoas. Mas o exagero do politicamente correto que se vive atualmente na minha opinião não faz justiça à coragem dessas pessoas. Pelo contrário, considero que as desiludiria. Porquê? Porque o politicamente correto castiga a todos nós e a prisão castiga apenas o criminoso que te violou, agrediu ou discriminou. E assim é que deve ser. Os criminosos vão para a cadeia e as pessoas livres dizem o que pensam. Eu não quero pagar por crimes que não cometi. Recuso-me.
Sou mulher e revolta-me o universo de desigualdades que mulheres e meninas sofrem por este mundo fora. Mulheres castradas, apedrejadas, violadas inclusivamente pelos seus maridos, queimadas com ácido e escravizadas, para nomear apenas algumas das coisas terríveis que se veem ao de longe (ou de perto). Isso tem de mudar urgentemente e depende de todos nós fazê-lo mudar. E ao mesmo tempo, sendo mulher e apesar de provavelmente partir em desvantagem em relação aos homens em muitos aspetos, não quero vantagem nenhuma, ajuda nenhuma, cotas nenhumas. Não, obrigada! Quero ser melhor do que qualquer homem e consegui-lo pelo meu trabalho, pelo meu esforço, por ser verdadeiramente a número 1. Não quero que o sistema mude, que as pessoas mudem, para o conseguir. Quero conseguir por mim, aliás já o consegui em quase tudo o que me propus. Olhei muitas vezes para os homens que ultrapassei e disse baixinho “Eat my dust, bitch!”. E ser mulher nunca funcionou contra mim, nem a meu favor. Nunca o permiti e não é agora que vai começar. Não admito e nunca vou admitir que me dêem qualquer benefício numa corrida, seja ela em que área de vida for, apenas por ser mulher. Isso sim, seria discriminação para mim. E pressionar a opinião pública da maneira que se tem visto, na minha opinião tem esse vergonhoso objetivo.
Sendo mulher, também adoro ser tratada como mulher. Ser cortejada, elogiada. Adoro que me puxem a cadeira para me sentar, adoro que me abram a porta para passar e que me deixem andar na parte de dentro do passeio. Adoro que me digam se estiver bonita e adoro dizê-lo a outras pessoas, homens ou mulheres. Adoro olhar para a rapariga que está no balcão do café e dizer-lhe que tem um cabelo lindo ou piscar o olho ao rapaz da loja de tecnologias e agradecer-lhe pela sua simpatia. Não aceito que elogiar o aspeto físico de uma pessoa seja rebaixá-la, assediá-la ou “deselogiar” a sua inteligência. Se eu te disser que estás super giro hoje eu não te estou a dizer que quero ir para a cama contigo, que quero alguma coisa de ti ou que só tens valor pela tua aparência. Se pensas isso, isso é problema teu e tens coisas para resolver com a tua auto-confiança. Uns mesinhos de terapia nunca fizeram mal a ninguém. Recomendo.
Sou branca, caucasiana ou coisa que o valha e revolta-me ver homens, mulheres e crianças de países de guerra, sem água para beber, ou a morrer à fome por todo o mundo e envergonha-me conhecer pessoas ditas inteligentes e cultas à minha volta que fazem comentários do género “vamos para outro lado que aqui é só pretos”. Não tenho tolerância para isso. Pessoas com comportamentos racistas, elimino-as da minha vida. E ao mesmo tempo revolta-me ter um amigo que foi chamado à atenção numa escola onde trabalha como professor por ter explicado aos alunos, que perguntaram pelo tema, as diferenças físicas e biológicas entre o corpo dos atletas negros e dos atletas caucasianos. Foi-lhe dito que isso era racismo e que não podia falar no assunto nas suas aulas. Entristece-me ver um ativista dos direitos dos negros que eu admiro a fazer campanha contra um cantor branco que usa o crioulo nas suas músicas, como se esse fosse um direito apenas dos negros. Então, nesse caso não pode haver fadistas negros? É isso? Não percebo. Mas sobre isto não posso falar porque sou branca e fica mal. Não é politicamente correto.
Estou numa relação heterossexual e revolta-me como em pleno século XXI ainda se julgam homens e mulheres apenas por escolherem amar alguém do mesmo sexo, ou porque têm gestos mais femininos ou mais masculinos do que o esperado, ou porque decidiram mudar o seu corpo para se sentirem mais felizes. Revolta-me que não se perceba que Amor é Amor. Amor é Amor independentemente de quem é o alvo e de qual o seu género biológico desde que se tratem de 2, 3, 4 ou mais adultos consentâneos. E, ao mesmo tempo, não consigo compreender a necessidade de mudar o discurso do metro de Londres de “Ladys and gentleman” para “Hello, everyone …” porque ladys e gentleman discriminava um terceiro grupo de pessoas que não se inclui nesses dois grupos. Por favor. Não vejo mal nenhum em mudar o discurso do metro, mas é mesmo isso que é importante para esse terceiro grupo? A sério? Com tantos direitos a conquistar é isso que é importante? Heteros, gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, enfim, pessoas. Só queremos ser amados e ter os mesmos direitos. Os mesmo DIREITOS. E tal como mulher que sou que não admito ser beneficiada por isso, se fosse gay ou trans também não iria querer ser beneficiada por isso. Se fosse gay ou trans ia rir-me à gargalhada do cinismo da mudança do discurso do metro de Londres depois de anos e anos de discriminação grave dos direitos humanos contra os gays. Se fosse gay ia querer ser valorizada pelas minhas conquistas independentemente de ser gay e não porque sou gay. Mas isso não posso dizer … porque não sou gay. E fica mal. Não é politicamente correto.
Não sou mãe e revolta-me a violência física, emocional e moral com que tantas crianças são obrigadas crescer e a conhecer como a única forma de nos relacionarmos com outros seres humanos. Mas não consigo aceitar o excesso de importância que damos às crianças hoje em dia. Elas estão à frente dos pais como indivíduos, dos pais como casal, das pessoas que estão à sua volta e que são incomodadas por elas no hotel, no restaurante, na rua, onde for. Porque uma criança hoje em dia não pode ouvir um não. Uma criança hoje em dia não pode ter limites. Os pais estão cheios de culpa por não terem tempo com qualidade para os seus filhos e por isso estão a criar pequenos monstros narcisistas e egocentrados. Sinceramente, temo pelo futuro destas gerações. Revolta-me estar num hotel e às tantas da noite abrir a porta do meu quarto e ver uma mãe com uma criança de 5 anos que está a acordar todo o corredor aos gritos e quando lhe peço silêncio dizendo “Peço desculpa, mas são 23h” ela me responde “São 23h mas eu tenho filhos”. Eu tenho filhos!!! Really!!!! Essa é a desculpa desta pessoa. Essa é a justificação. Ela tem filhos, por isso toda a gente que está no hotel que se lixe e que se adapte. Por favor! “Se tens filhos atura-os tu” era o que eu lhe devia ter respondido, mas a minha boa educação não me permitiu, a tal educação que os meus pais me deram. Não posso dizer isto porque são crianças e temos de aceitar. Eu não me lembro da maior parte dos filhos dos meus amigos fazerem coisas desse género. E os meus amigos não são tiranos, acredita. Ah, e definitivamente não me lembro de os meus pais me admitirem 10% do que vejo hoje em dia a ser permitido às crianças. Os pais estão cansados e culpados e o resto do mundo está a pagar a factura. Mas sobre isso não posso falar, porque não sou mãe e não fica bem. Não é politicamente correto.
É por isso que hoje precisei de te dizer que a mim revolta-me a prisão do politicamente correto. Não tolero nem nunca vou conseguir tolerar que a liberdade de expressão de cada um seja limitada, excepto quando incite à violência.
Por isso, já que ando numa de falar de coragem, decidi assumir a minha parte e dizer-te o que penso. Ou então estou só a ficar velha e de ideias retrógradas, quem sabe. Seja como for, deixo-te um último desejo … sejas homem, mulher, adulto, criança, hetero, gay, branco, preto ou da cor do arco-íris … Peace and Love.
Jo ♥
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